Doença da Arranhadura do Gato

O que é a Doença da Arranhadura do Gato?

A doença da arranhadura do gato é uma zoonose causada pela bactéria com distribuição mundial, a Bartonella henselae. A doença é transmitida pela saliva dos gatos e é transmitida ao humano através de arranhões e mordidas.

No humano provoca uma vesícula no local da inoculação e aumento dos gânglios linfáticos. Normalmente não é grave e passa em tratamento. A maioria dos casos ocorre em crianças principalmente entre Agosto e Outubro.

Como se transmite entre animais a Doença de Arranhadura do Gato?

Para além do gato, esta zoonose poderá ser transmitida por porquinhos da índia, coelhos e cães. Estas espécies funcionam como reservatório da doença, permitindo que se espalhe a outros animais.

Nos gatos, a contaminação ocorre através do contacto com sangue contaminado, como nas lutas ou transfusões, ou através de parasitas infectados. Pensa-se que as pulgas Ctenocephalides felis sejam os principais transmissores da doença. Actualmente admite-se que também as carraças possam ser responsáveis pela sua transmissão.

Cerca de 50% dos gatos, principalmente os jovens, estão infectados e não apresentam sinal da doença. A bactéria encontra-se nos glóbulos vermelhos dos felinos e contamina a saliva. Assim, quando o gato se lambe contamina o seu pelo e unhas.

Bartolenose nos gatos

A maioria dos gatos é assintomático, no entanto alguns poderão sofrer de bartolenose felina. A doença é ligeira e autolimitante. Cursa com febre ligeira por 48 a 72 horas. Outros sinais mais raros são febre, vómito, letargia, sinais oftalmológicos (ex. olhos vermelhos), linfomegália e falta de apetite.

Bartolenose em cães

A doença da arranhadura do gato em cães pode provocar vários sintomas como febre, endocardite, miocardite, linfoadenite granulomatosa, arritmias, rinite e epistaxis.

Como se transmite a Doença de Arranhadura do Gato aos humanos?

A doença é transmitida quando o gato arranha ou morde o humano. Como a bactéria se encontra na saliva do gato entra em contacto com o sangue através da mordida. As unhas são contaminadas com a bactéria enquanto o gato se lambe, podendo também contribuir para a transmissão desta bactéria.

Outras formas menos comuns de transmissão são quando o gato lambe feridas abertas da pessoa, quando a pessoa toca nos olhos logo após tocar no gato que se acabou de lamber ou através de parasitas externos.

Quais são os sintomas da Doença de Arranhadura do Gato?

Esta doença é mais frequentemente diagnosticada em crianças do que adultos e normalmente é associada a história de contacto com gatos.

Após a inoculação através da arranhadura ou mordida, forma-se um eritema no local da inoculação após 3 a 10 dias. Este é o primeiro sinal clínico. O eritema desenvolve-se em vesícula, pápula e finalmente crosta. Devido à sua apresentação, o local de inoculação poderá ser semelhante à picada de um insecto.

Passado 1 a 3 semanas desenvolve-se linfoadenopatia regional e unilateral que durará vários meses. Os gânglios linfáticos poderão ficar inchados, sensíveis e com supuração. Em muitos pacientes ocorre envolvimento de um só gânglio.

Outros sintomas são dores de cabeça, mal-estar, anorexia, náusia, febre e dor abdominal. Mais raramente poderá aparecer artrite, mialgia, hetoesplenomegália e osteíte.

Deverá contactar o seu médico quando ocorre uma das seguintes situações:

  • Arranhões que não curam.
  • Vermelhidão à volta de um arranhão ou mordedura.
  • Febre
  • Gânglios linfáticos inchados ou doridos por mais de 2 a 3 semanas.

Em imunodeprimidos, como utilizadores de corticosteroides ou infectados com SIDA, a doença poderá ser mais grave e até fatal.  Poderá ocorrer endocardite, meningoencefalite e manifestaçãoes oculares. Após 1 a 6 semanas da linfoadenopatia poderá começar a sentir cefaleias intensas e confusão. Nestes também poderá acontecer peliose bacilar ou angiomatose.

Diagnóstico da Doença da Arranhadura do Gato

O médico deverá suspeitar desta doença quando existe aumento dos gânglios linfáticos unilateral e história de exposição a gatos. Outra forma de suspeita é através da observação da mordida ou arranhadura.

Para diagnóstico definitivo deverá identificar-se a bactéria. Como esta estirpe é de difícil cultura em laboratório, utiliza-se a serologia de anticorpos. Ou seja, a procura de anticorpos (partes da bactérias) no sangue da pessoa.

Tratamento da Doença da Arranhadura do Gato

A maioria dos pacientes, especialmente nas crianças, a linfoadenopatia é auto-limitante e não requer tratamento. A recuperação total ocorrerá dentro de 2 a 5 meses. Como ajuda à recuperação, poderá ser aplicado calor no local da mordida, aspiração da vesícula e administração de analgésicos.

Quando a doença é mais grave e se espalha ao órgãos (cerca de 14% das pessoas) necessita de tratamento antibiótico (ex. azitromicina). No caso da angiomatose ou peliose bacilar, é necessário um curso prolongado de antibióticos (3 a 4 meses) para evitar o relapso. Nestes casos, bem como nos casos neurológicos, aconselha-se a utilização de eritromicina ou doxiciclina.

Prognóstico da Doença da Arranhadura do Gato

O prognóstico para os casos simples é excelente. Nos casos com envolvimento neurológico, hepático ou de vários órgãos poderá ocorrer mortalidade ou manterem-se sequelas. Após o primeiro contacto com esta patogénico, desenvolve-se imunidade para a vida.

Prevenção da Doença da Arranhadura do Gato

  • Evitar contacto com gatos desconhecidos.
  • Evitar actividades que levem o gato a morder ou arranhar.
  • Não irritar o gato.
  • Lavar as mordidas e arranhaduras de imediato com água e sabão.
  • Não permitir o gato lamber feridas abertas.
  • Lavar as mãos após contacto com os gatos.
  • Fazer controlo de pulgas e carraças visto que podem transmitir a doença.
  • Gatos de interior têm menor risco de possuir a bactéria.

Artigos de referência:
Cat-scratch disease, Klotz et al. 2016
Cat-scratch disease: a wide spectrum of clinical pictures, Mazur-Melewska et al. 2015

8 comentários em “Doença da Arranhadura do Gato”

  1. Essa doença, passa de uma pessoa contaminada para outra que não tá contaminada?
    Por exemplo por beijo?

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    • Olá Evandra,

      A doença é principalmente transmitida através do contacto da bactéria com o sangue através da mordedura ou arranhadela do gato. Outras formas de transmissão são muito raras.

      Abraços,
      Joana Prata

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  2. Após ler o artigo acima, fiquei com uma duvida relativamene ao meu gato, com o qual brincamos muito e que por vezes deixa pequenas arranhaduras e mordidelas. Ele está apenas em casa e no quintal (espaço pequeno e murado) e apenas tem contacto com o meu cão (esse sim vai à rua). Está vacinado, desparasitado e faz consulta de rotina.Está connosco desde as três semanas e tem agora três anos.

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    • Olá Margarida,

      Qualquer gato pode ser portador da bactéria. Como referimos, raramente os donos sentem sintomas após a arranhadura, por isso não é motivo de grande preocupação. A informação serve apenas para alertar os donos para estarem atentos às formas mais graves da doença, que são raras 🙂

      Abraços,
      Joana Prata

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  3. Boa tarde, tenho 4 gatos e recentemente foi-me diagnosticada possível doença pela arranhadura de gato, uma vez que foram-me retirados gânglios extremamente dolorosos na axila. Como tive uma neoplasia da mama, encontro-me sob vigilância. Já tomei doxiciclina e, agora, amoxicilina e os gânglios parecem aumentar. Como posso saber se se tratou de algum dos meus gatos (o mais jovem?), devidamente vacinados e desparasitados? Que cuidados acrescidos poderei ter dado que até os médicos põem em causa os resultados da anatomia patológica?
    Grata pela atenção.
    Paula Moreira

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    • Olá Paula,
      Uma forma de identificar é fazer a determinação de anticorpos no seu sangue para determinar a exposição, no entanto poderá não ser possível relacionar temporalmente a presença dos anticorpos com os sintomas demonstrados. Neste momento como se encontra infetada, após cura em alguns meses ficará imune e não voltará a ser infetada. Neste momento já não será necessário ter muitos cuidados uma vez que já se encontra infetada e nova exposição à bacteria não fará diferença no desenvolvimento da patologia. No entanto, se partilha a casa com mais pessoas, especialmente crianças ou idosos, recomendamos que estes sigam as dicas que apresentamos no artigo.
      Cumprimentos,
      Joana Prata

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