Qual é a melhor idade para castrar cães e gatos? Riscos e vantagens da castração.

A castração ou esterilização (gonadectomia) é um procedimento médico de rotina nos cães e gatos. Tem vantagens como reduzir o número de ninhadas indesejadas, comportamentos sexuais e algumas patologias. No entanto, a maioria dos cuidadores ainda se questiona qual é a melhor idade para castrar os cães ou gatos.

Vantagens e desvantagens da castração de cães e gatos

Com qualquer procedimento médico, existem riscos e benefícios associados à castração. Estudos revelam que estes riscos e benefícios poderão também estar relacionados com a idade em que o gato ou cão é castrado.

É necessário ter em conta que os benefícios excedem os riscos, sendo por isso que a castração é um procedimento tão popular nos animais de companhia. Isto porque os riscos, apesar de existirem, são menos prováveis de ocorrerem.

De qualquer das formas, os tutores de cães e gatos devem estar informados sobre o procedimento clínico que realizam. Uma questão pertinente é qual a melhor idade para castrar cães ou gatos, baseado nas evidências científicas.

Cancro mamário e testicular

O cancro mamário é dos mais frequentes em cadelas inteiras (sem castração). Pensa-se que afete 25 – 58% das cadelas (variando com a raça) e que metade seja tumores malignos. A castração poderá ajudar a prevenir o cancro mamário. Em cadelas com cancro mamário, a castração reduz a formação de novos tumores.

Nas gatas, o risco é cerca de metade do das cadelas, mas mais de 85% dos tumores são malignos. Em gatas, a castração antes do primeiro ano de vida leva a uma redução de 86% do risco de neoplasia mamária.

Nos cães macho, a castração previne a neoplasia testicular, apesar de apenas menos de 1% dos cães inteiro (por castrar) morrerem deste cancro. No entanto, a castração aumenta o risco de neoplasia prostática – mas apenas para 0.6%. Portanto, mesmo em machos os benefícios da castração excedem os riscos.

Piometra e hiperplasia da próstata

Em cadelas, o risco de piometra (infeção do útero) é de 25 – 66% após os 9 anos de idade. Algumas raças parecem ter um risco acrescido, como os Collies, Pastores Alemães, Labradores, Goldens e Rottweillers. A piometra é potencialmente mortal e pode ser prevenida (ou tratada) pela castração.

Em cães macho, a hiperplasia da próstata afeta até 75% dos cães após os 6 anos de idade. Estes cães estão predispostos a infeções da próstata e à formação de abcessos que poderão ser fatais A castração previne e cura a hiperplasia benigna da próstata.

Problemas urinários

Nas cadelas, a castração parece estar associada a um aumento da incontinência urinária por incompetência do esfíncter uretral. Um estudo encontrou maior risco em cadelas castradas antes dos 3 meses de idade. Mas estudos posteriores não foram capazes de confirmar. Já um estudo geral identificou o risco de 1 a 9%, variando com o tamanho do animal.

Linfoma

Os linfomas são tumores de células sanguíneas (linfócitos) localizados, formando massas. Um estudo descobriu que machos inteiros (por castrar) tinham maior risco de linfoma do que fêmeas, castradas ou não, e machos castrados. Em cães Vizsla, um inquérito revelou maior risco de linfoma em cães castrados.

Já em Golden Retrievers, cães castrados antes de um ano de idade e não castrados apresentaram maior risco que cães castrados após o primeiro ano de vida. Portanto, ainda é difícil concluir sobre o risco de linfoma e a sua relação com a castração.

Muitos cancros ocorrem com maior frequência em algumas raças, podendo confundir os resultados. Em relação à idade, apenas se pode concluir que os Goldens devem ser castrados após um ano de idade.

Hemangiossarcoma

O hemangiossarcoma é um cancro maligno dos vasos sanguíneos que corresponde a 2% dos cancros em cães. Raças como Boxer, Labrador, Golden Retrievers e Pastores Alemães, têm um risco significativo de morrer desta neoplasia.

Em Vizslas e Gonden Retrievers, a castração de cães antes do primeiro ano de vida parece reduzir o risco de hemangiossarcoma. O risco aumenta em fêmeas castradas após o primeiro ano de vida.

Outro estudo encontrou maior risco em fêmeas castradas do que fêmeas inteiras, não avaliando a idade da castração. Enquanto que um estudo em Labradores não encontrou diferenças entre castrados e não castrados.

Em geral, o risco do hemangiossarcoma é baixo. Nos Vizslas e Golden, há evidencias que a castração no primeiro ano de vida reduz o risco de hemangiossarcoma. Nos gatos, esta cancro é infrequente e não há registo da relação com a gonadectomia.

Osteossarcoma

Nos cães, o osteossarcoma é o cancro dos ossos mais frequente. É uma causa de morte comum em raças médias, grandes e gigantes. O prognóstico para este cancro é mau, com uma espectativa de vida de 5 a 18 meses. Por isso, há a preocupação do osteossarcoma estar associado à castração.

Um estudo em Rottweilers revelou que a castração no primeiro ano de idade aumentava até 3.6 vezes o risco de osteossarcoma, comparado a cães inteiros. Noutros estudo, o risco de 8% de osteossarcoma em cães inteiros aumentou para 28% em cães castrados durante o primeiro ano de vida. No entanto, os cães castrados tiveram maior sobrevivência do que os inteiros. O risco de cancro dos cães castrados pode estar relacionado com a maior longevidade destes animais, sendo que o risco de cancro aumenta com a idade.

Num estudo de cães de raça descobriu que cães castrados tinham o dobro do risco de desenvolver osteossarcoma. Os autores especulam que fatores não estudados, como a dieta e suplementação mineral, podem contribuir para o aumento do risco.

Estudos mais recentes em Golden, Labradores e Vizsla não encontram diferenças no risco de osteossarcoma em cães castrados e inteiros. Estes estudos revelam que a associação da castração ao osteossarcoma ainda não foi comprovada para a generalidade dos animais, estando dependente das raças. Em gatos, o osteossarcoma é incomum e não foi encontrada associação com a castração.

Mastocitoma

O mastocitoma é um tumor de pele comum em cães e gatos. Nos cães, as raças Boxer, Boston Terrier, Golden e Labrador apresentam maior predisposição. Apesar de serem dos cancros de pele mais frequentes, o risco destes tumores em cães é de apenas 0.13%.

Em cadelas, o risco parece aumentar com a castração (2.3%), principalmente quando realizada no primeiro ano de vida (5.7%). Em Labradores, relação entre a castração e o risco de mastocitoma não foi encontrado. Já em Vizsla, animais castrados tiveram maior risco, especialmente quando castrados após o primeiro ano.

Desconhece-se ainda a associação geral entre mastocitomas e a castração. Em Golden e Vizslas, o ideal será realizar a castração no primeiro ano de idade. Não há associação entre o mastocitoma e a castração em gatos.

Problemas Ortopédicos

Há uma grande preocupação da associação da castração ao risco de displasia da anca, uma doença multifatorial. Em Golden machos e Labradores fêmea, há maior risco de displasia da anca em animais castrados no primeiro ano de vida, sendo que o risco diminuía (tornando-se nulo) quando a castração era realizada mais tarde (cerca de 2 anos).

Na verdade, a displasia da anca é uma doença multifatorial. O risco de displasia da anca também pode estar associado à obesidade após castração. Logo, o ideal é manter o cão saudável, com um peso ideal e exercício frequente.

Em Labradores, a displasia do cotovelo apresenta maior risco em machos castrados antes dos 6 meses de idade. Já em fêmeas e machos castrados após os 6 meses não aparenta haver relação.

A rutura do ligamento cruzado cranial aparenta ser maior em animais castrados no primeiro ano, incluindo Labradores castrados nos primeiros 6 meses. No entanto, em Goldens, o risco não foi associado à castração no primeiro ano. Mais uma vez, a obesidade após castração pode estar associada ao desenvolvimento da rutura do ligamento cruzado cranial e não foi avaliada por estes estudos.

Gatos e cães castrados têm maior risco de fraturas fisárias (das placas de crescimento). Isto porque o fecho da placa de crescimento é atrasado em animais castrados em idades jovens, estando também associado ao excesso de peso. Logo, gatos machos castrados no primeiro ano de vida deverão ser mantidos no seu peso ideal.

Comportamento

A influência da castração no comportamento dos cães ainda não é bem conhecida. Num estudo, cães machos castrados diminuíam o vaguear, comportamento de montar e agressividade com outros machos. Já outro estudo encontrou que cães machos castrados nos primeiros 6 meses de vida apresentavam maior agressão com a família, ladrar e rosnar a estranhos e ladrar excessivo.

Os gatos também demonstram alterações comportamentais associadas à castração. Gatos machos castrados antes dos 6 meses tiveram diminuição do comportamento sexual, marcação com urina, agressão ao veterinário e aumento da procura de refúgios. Em gatos machos e fêmeas castrados antes dos 6 meses, há diminuição da timidez com estranhos. Em gatinhos com castração pediátrica e castração normal (6 a 8 meses) revelaram não haver diferença no comportamento.

Em geral, parece haver benefícios no comportamento sexual e territorial de cães e gatos castrados. No entanto, por vezes esta limitação dá aso ao aparecimento de outros comportamentos, como o ladrar excessivo

Longevidade

Em humanos, a longevidade parece estar relacionada com a presença de estrogénio e testosterona. Já nos cães, a ausência destas hormonas após castração não parece estar associada a acontecimentos negativos. Aliás, cães castrados apresentam um aumento de longevidade até 26.3%. Cães castrados apresentam maior risco de morrer de neoplasia e doenças imunomediadas (relacionada com a idade), do que de traumas, doenças infeciosas, ou doenças vasculares ou degenerativas.

Conclusão

Quais sãos os riscos e benefícios da castração em cães e gatos?

Benefícios da Castração:

  • Controlo da população (prevenção do abandono animal);
  • Prevenção do cancro mamário;
  • Prevenção do cancro testicular;
  • Prevenção da piómetra;
  • Prevenção da hiperplasia benigna da próstata;
  • Redução do comportamento sexual e territorial;
  • Aumento da longevidade.

Riscos da castração:

  • Aumento do risco de incontinência;
  • Aumento de patologias ortopédicas em castrações precoces (obesidade?);
  • Aumento de outros problemas comportamentais.

Os riscos e benefícios da castração são ainda inconclusivos para o linfoma, hemangiossarcoma, osteossarcoma e mastocitoma. Muitos destes podem estar relacionados com fatores pouco estudados, como o estilo de vida, maior longevidade e aumento de peso de animais castrados.

Qual é a melhor idade para castrar cães e gatos?

Em resumo, a idade ideal para castrar cães e gatos é:

  • Gatos e gatas: após as 6 semanas.
  • Cadelas: após as 12 a 16 semanas.
  • Cães: após a 6 a 8 semanas.

Gatos

Em gatos, a gonadectomia não parece estar associada a acontecimentos negativos após as 6 semanas de idade. O controlo do peso após castração é essencial para evitar doenças endócrinas e a fratura fisiárias.

Cães

Em cães, a idade da castração deve ser ponderada pois não está bem definida. Uma vez que há aumento da longevidade e prevenção de doenças mortais, os benefícios excedem os riscos de doenças menos frequentes. Em cadelas, a castração deve ocorrer aos 3 a 4 meses para evitar incontinência urinária. Em machos, a castração deve ocorrer após as 6 a 8 semanas.

Raças específicas de cães

No entanto existem algumas exceções relativas a raças. A castração poderá se realizada após um ano de vida nos Rottweiler devido ao osteossarcoma e nos Golden devido a preocupações com displasia da anca, ruptura do ligamento cruzado cranial, e linfoma. Em fêmeas Golden, o risco de mastocitoma e hemangiossarcoma pode favorecer a castração no primeiro ano.

Nos Labradores machos, a castração deve ser realizada aos 2 anos devido ao menor risco de ruptura do ligamento cruzado cranial e da displasia do cotovelo, apesar da castração aos 6 a 11 meses parecer segura. Nos Labradores fêmea, a castração aos 2 anos reduz o risco de displasia da anca.

Em Vizsla, os cães podem ser castrados no primeiro ano de idade uma vez que o risco de doenças é baixo.

No entanto, esta informação específica de uma raça não deve ser generalizada. Existem fatores relativos à genética, mas também ao peso, ambiente e exercício dos animais que confundem a interpretação dos resultados.

Referência: Howe 2015

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