Sindrome de Ansiedade de Separação em Cães e Gatos

 

A ansiedade de separação é uma problema comportamental que atormenta inúmeros donos. O cão quando separado do dono torna-se ansioso o que resulta em comportamentos destrutivos, eliminação inadequada, vocalizações entre outros.

O tratamento desta patologia não é simples. Requer muita dedicação por parte do dono. É necessário condicionar o cão progressivamente a tolerar o isolamento. Isto é atingido através de exercícios de treino.

O que é a ansiedade de separação?

O transtorno de ansiedade de separação é um problema comportamental que afecta cães e gatos. Resume-se ao medo de ficar sozinho. Na ausência do dono, ou menos frequentemente, de outros animais, o animal apresenta stress e ansiedade. Este exprime-se como agitação, vocalizações, comportamento destrutivo, hiperactividade e eliminação inadequada.

Diagnóstico de Ansiedade de Separação em cães

O comportamento animal é uma ciência complexa. Por isso, a apresentação de agitação ou outro sintoma pode ser relacionada com a ansiedade de separação ou outras patologias.

Para tal é importante fazer um diagnóstico correcto da ansiedade de separação. Nesta patologia comportamental é comum o cão apresentar os seguintes comportamentos:

  • Comportamento destrutivo de objectos usados pelo dono quando isolado e principalmente em áreas de entrada e saída da casa.
  • Eliminação inadequada em áreas de entrada e saída da casa quando isolado.
  • Vocalização e ansiedade quando o dono se prepara para sair de casa e durante o isolamento.
  • O animal não tolera estar fechado na jaula, destruindo o seu conteúdo e tentando escapar.

O sinal mais evidente é a demonstração de ansiedade apenas quando o dono não está presente. Principalmente nos primeiros 30 a 60 minutos de isolamento.

Através de condicionamento, o animal passa a associar o ritual de sair do dono ao isolamento. Assim, quando o dono pega na chaves e carteira, o animal começa a revelar sinais de stress. Nesta ocasião, o cão pode bloquear o acesso a porta, andar sem parar, tremer, salivar e ganir.

Na ausência do dono, os cães tornam-se destrutivos, normalmente roendo objectos com odor do dono e arranhando portas e janelas. A eliminação inadequada neste caso só ocorre na ausência do dono, sendo o cão bem treinado nas restantes situações.

Factores de risco de Ansiedade de Separação

  • Cães adoptados do canil apresentam maior incidência, talvez devido à experiência do abandono ou ao ambiente do canil;
  • Machos;
  • Multiplas mudanças de casa ou mudança no ambiente ou rotina;
  • Fobias a barulhos (ex. fogo-de-artificio);
  • Animais ansiosos hiperexcitaveis que seguem o dono pela casa e não toleram ficar na jaula.

Tratamento da Ansiedade de Separação em cães

O tratamento tem como base uma terapia comportamental com o objectivo de reduzir a ansiedade e melhorar o sentimento de segurança do cão quando sozinho. Esta terapia devem-se acompanhar sessões de treino e exercício com horários bem definidos. Por último poderão ser utilizados fármacos para facilitar o controlo das crises.

A terapia, resumidamente, assenta em 4 pilares:

  • Redução da dependência do dono: através do treino do comando “deita e fica” que permite o cão manter-se relaxado com a gradual distância do dono.
  • Re-condicionamento do ritual de saída do dono: evita que o animal preveja que o dono se vai ausentar e a ansiedade associada. Através da utilização de um brinquedo de elevado valor treina-se o cão a associar os rituais de saída a algo positivo.
  • Dessensibilização ao isolamento: o cão é deixado num quarto sozinho com um brinquedo de elevado valor. O regresso do dono faz-se antes do animal ficar inquieto, ou seja, enquanto se encontra relaxado. O período e situação de isolamento prolonga-se gradualmente.
  • Terapia complementar: deverá ser implementado um horário estático para alimentação, treino, passeios e brincadeira. Este permitirá o cão relaxar nos períodos intermédios. O próprio treino básico permite que o cão se sinta mais confiante e seguro. Por último, poderão ser utilizados fármacos sob receita do médico veterinário.

Reduzir a dependência ao dono

Normalmente cães que sofrem de ansiedade de separação são nervosos e estão sempre próximos do dono, seguindo-o pela casa. Portanto é preciso ensinar o cão a estar relaxado na ausência do dono.

Para reduzir os níveis de ansiedade do cão não é aconselhável castiga-lo ou usar o treino como castigo. O objectivo é aumentar o conforto do cão quando separado do dono. Por isso o treino tem que ser algo positivo e que transmita segurança ao cão.

O treino consiste em ensinar o cão o comando “deita e fica”. Inicialmente o dono deve manter-se junto ao cão, repetindo e aumentando a duração em que o cão permanece deitado.

O treino deve ser reforçado com mimos e guloseimas. Quando o cão aguentar 1 a 2 minutos nesta posição, o dono pode começar a distanciar-se um pouco do cão e voltar. O distanciamento gradual pode ser intercalado com o dono a fazer tarefas domésticas enquanto o cão se mantém deitado.

O dono deve voltar com frequência ao cão e calmamente fazer reforço positivo utilizando guloseimas ou através de mimos e elogios. Se o cão mostrar ansiedade, o dono deve encurtar a distância até o cão estar confortável.

Esta regra é importante uma vez que queremos que o cão associe o isolamento a comportamento relaxados e positivos. Afastar-se mais do cão quando este está ansioso ou reprimi-lo vai levar a que associe ainda mais o isolamento à ansiedade, piorando a situação.

Portanto este treino deve ser paciente e em ambiente relaxado. Quando o cão tolerar pequenos períodos de separação, o dono deve usar o comando em casa durante o dia.

Este treino pode ser mais fácil após períodos de exercício, como após os passeios. O treino tem como objectivo aumentar o sentimento de segurança do cão quando separado do dono.

Em alternativa, pode ser treinado o comando “Vai para o ninho”.  Quando o cão procura atenção em demasiada, poderá ser treinado um comportamento alternativo e incompatível.

Recondicionamento do ritual de saída do dono

O cão prevê que o dono vai sair de casa devido ao seu ritual (ex. pegar nas chaves), ficando de imediato ansioso. Por isso, é importante que deixe de associar este rituais ao isolamento e ansiedade.

Ou seja, podemos desassociar estes rituais do momento em que o dono sai e da ansiedade. Inicialmente deve ser feita uma lista dos rituais de saída que causam ansiedade e o seu grau de importância. Deve-se iniciar o treino pelo sinal que causa menos ansiedade.

Deve ser escolhido um brinquedo ou osso de roer que o cão goste muito e que fique entretido por mais de 30 minutos. O treino inicial é simplesmente dá-lo ao cão e passados alguns minutos removê-lo enquanto o cão se mantém interessado. Repete-se até que o cão aceite a remoção do brinquedo.

Depois inicia-se o treino de recondicionamento. Para tal, o dono realiza um dos rituais de saída e imediatamente fornece este brinquedo. O brinquedo passa a ser só oferecido nestas circunstâncias.

Repete-se este treino durante o dia. Realiza-se o ritual, oferece-se o brinquedo e o dono continua em casa, removendo-se o brinquedo passados alguns minutos. Esta sequência é repetida para todos os rituais gradualmente.

Por exemplo, os rituais por ordem do menos grave para o mais grave são: vestir o casaco, pegar na carteira, pegar nas chaves. O dono deve iniciar o treino pelo menos grave, ou seja, vestir o casaco.

Nesse caso deve vestir o casaco e dar de imediato o brinquedo. Este processo é repetido várias vezes ao longo do dia, mesmo quando o dono permanece em casa. Quando o cão deixar de demonstrar ansiedade neste ritual passa-se ao próximo, ou seja, à carteira.

Repete-se o processo relativamente à carteira, e novamente em relação às chaves, até o cão deixar de demonstrar ansiedade nestes rituais. Este treino permite reduzir a ansiedade por antecipação e construir uma associação positiva ao isolamento devido à presença do brinquedo.

Desensibilização ao isolamento

Quando se realizaram com sucesso os dois exercícios acima descritos, podem-se introduzir pequenos períodos de isolamento. Para este exercito-se utiliza-se novamente um brinquedo de elevado valor para o cão e que o mantenha entretido por longos períodos. O brinquedo só deverá exclusivamente utilizado neste treino.

Inicialmente o dono coloca o cão num quarto com o brinquedo e deixa-o sozinho durante alguns minutos. Antes que o cão perca interesse pelo brinquedo e fique ansioso devido ao isolamento, o dono deve voltar e calmamente recompensar o cão. O brinquedo é removido e o cão pode sair do quarto.

A sequência é apresentada várias vezes ao dia e prolongando-se gradualmente o tempo. O brinquedo torna-se assim uma segurança para o cão, associando a pequenos períodos de isolamento sem ansiedade.

Usando uma sequência de tempo variável, o período de isolamento é prolongado (ex. 10-3-15). Finalmente chegam-se a 30 a 45 minutos, onde poderá ser necessário fornecer 2 brinquedos para aguentar esta duração.

Quando 45 minutos forem tolerados, o dono pode adicionar rituais de saída e eventualmente sair da casa por curtos períodos de tempo. Quando se apresentam estes estímulos novos, o período deve ser encurtado e gradualmente aumentado.

Este treino pode levar mais ou menos tempo dependendo da tolerância do cão ao isolamento. O importante e manter o cão sem ansiedade, uma vez que esta pioraria o problema.

Maneio do cão

Cães com rotinas pontuais de treino, exercício e brincadeira com o dono são mais relaxados e toleram melhor o isolamento. Treino de obediência é recomendado uma vez que melhora a confiança do cão.

Quando o cão é destrutivo pode-se magoar. Por isso é aconselhável deixa-lo numa jaula, canil ou numa divisão da casa. Normalmente a jaula não funciona uma vez que o cão já a associa a algo negativo e continua com comportamentos destrutivos. Deve ser fornecido um brinquedo diferente do que é usado nos treinos anteriores.

Se o cão tem ansiedade de separação grave não é possível mantê-lo em casa. Neste caso o melhor é coloca-lo num canil de dia ou contratar um pet-sitter.

Terapia farmacologica

Fármacos ansiolíticos podem ser utilizados para reduzir o stress nos inicio do treino e retirados progressivamente. A terapia farmacológica só deverá ser utilizada em conjunto com o programa de treino e com receita do médico veterinário.

Os antidepressivos triciclicos reduzem a ansiedade e melhoram o programa de modificação do comportamento. São utilizados a amitriptilina e a clomipramina.

As benzodiazepinas permitem controlo imediato do pânico extremo de alguns cães. São utilizados o alprazolam e clorazepato, administrando-se 1 a 2 horas antes do dono sair de casa.

Estas duas classes podem ser utilizadas em conjunto evitando relapsos. Podem ser utilizadas outros fármacos, como a fluoxetina e fenotiazinas.

Adicionalmente, pode ser usada a Ferormona Tranquilizadora Canina (DAP) que aparenta ser tão eficaz como a administração de clomipramina. A DAP é libertada pelas glândulas mamárias da cadela para acalmar os cachorros. A exposição de cães adultos a DAP libertada por sprays ou difusores eléctricos tem um efeito relaxante.

“Tratamentos” a evitar

A seguinte lista de tratamentos deverá ser evitada uma vez que não contribui para a resolução do problema, podendo mesmo em alguns casos piorá-lo:

  • Castigos: aumentam a ansiedade e pioram o problema.
  • Adoptar outro cão
  • Manter o cão na jaula sem fazer a terapia comportamental
  • Tentar usar um brinquedo como segurança sem condicionamento prévio

Prevenção da perturbação de ansiedade de separação

O stress durante a separação é natural em todos os cachorros. Quando crescem aprendem a estar separados do dono por períodos de tempo crescentes. Um brinquedo “de segurança” pode ser introduzido no inicio da vida e fornecido apenas quando o cão fica isolado. Este condicionamento com o brinquedo, acoplado a uma rotina de exercício, brincadeiras e treino é essencial na prevenção da ansiedade de separação.

Ansiedade de Separação em gatos

Tal como nos cães, em gatos a ansiedade de separação ocorre quando o animal fica isolado do dono. No entanto, na maioria dos gatos, a ansiedade de separação apenas se revela após longos períodos de isolamento (ex. dias).

Em gatos, é frequente ocorrer vocalização e eliminação inadequada, principalmente na cama do dono. Animais predispostos a este comportamento são gatos muito agarrados ao dono e que pedem atenção e vocalizam quando o dono se encontra a sair de casa.

Tratamento de Ansiedade de Separação em gatos

Uma vez que o comportamento dos gatos é diferente dos cães, não poderão ser utilizados brinquedos de roer ou treino “deita e fica”. Estes deverão ser substituídos por actividades adequadas ao perfil do gato.

Os brinquedos utilizados devem cativar a atenção do gato por maiores períodos. Por isso aconselha-se a utilização de brinquedos que se movam erraticamente, que libertem guloseimas, ou brinquedos interactivos que rodam ou se movem sozinhos.

O treino continua a basear-se em reduzir a dependência ao dono. Inclui fechar o gato num quarto com um brinquedo interactivo por curtos períodos de tempo. Também será favorável reduzir a atenção e brincadeira com o gato a um horário fixo, evitando assim que o gato procure o dono no restante tempo.

Por último, durante o programa de treino o local onde realiza a eliminação inadequada deverá estar inacessível. Como frequentemente se trata da cama do dono, poderá simplesmente fechar-se a porta do quarto evitando a entrada do gato.

2 comentários em “Sindrome de Ansiedade de Separação em Cães e Gatos”

  1. Olá
    Tenho um gato filho de uma gata que nos adoptou como donos e teve 6 crias em 2013, dessas foram adoptadas 5 e este ficou porque gostamos muito dele.
    Viveram sempre juntos e dentro de casa com excepção da mãe que saía para o quintal e ia dar umas voltas até ao quintal vizinho.
    O gato não ia porque tinha tendência a ir para a estrada e ficava em casa.
    Quando a mãe chegava punham a conversa em dia miando de forma diferente e baixinho.
    Apesar dele comer já comida própria para ele nunca deixou de mamar na mãe.
    Acontece que pouco antes do Natal a mãe saiu e não mais voltou.
    Fizemos tudo para a encontrar mas até agora tudo em vão.
    Já nos conformamos que não volta mais e que provavelmente tera morrido.
    Agora o problema;
    O gato não pára de querer ir procurar a mãe mia estridentemente chora com lágrimas corre feito louco pela casa toda à procura dela e cheira todos oslocais por onde ela passou.
    Pede e recebe miminhos mas não sossega.
    Acho que está com uma grande crise de ansiedade.
    Como posso tirar-lhe essa ansiedade?
    Será que nos podem ajudar?

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    • Olá Carlos,

      Por vezes os gatos desenvolver relações próximas com a gata mãe, como é o caso de continuarem a mamar em adultos por conforto ou miar para ela. A separação do filhote da gata em bebé será seguido por uma semana de adaptação.

      No entanto, no seu caso o gato é adulto, sente-se só agora que não tem a mãe. O miado provavelmente é para chamar a gata ou pedir a atenção dos donos. Para reduzir a ansiedade poderão seguir as dicas deste artigo, dedicar mais tempo a brincar com o gato, ou adoptar um companheiro para que tenha companhia durante o dia.

      Cumprimentos,
      Joana Prata

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