A coprofagia canina, que deriva do grego “comer fezes”, é um comportamento que repele os tutores mas que afeta cerca de 28% dos cães. Este comportamento poderá afetar a relação cão-tutor, expor o cão a parasitas (vermes) ou microrganismos patogénicos e é causa de mau hálito.
Não parece haver nenhuma anormalidade relacionada com o aparecimento do consumo de fezes no cão. Problemas comportamentais, gastrointestinais, nutricionais ou até desordens compulsivas não se parecem relacionar com a coprofagia canina. No entanto, recomenda-se sempre um check-up veterinário para excluir qualquer problema de saúde.
O consumo de fezes é algo repulsivo para os donos. Pode até mesmo afetar a sua relação com o cão. Na verdade, os cães têm uma aversão inata às fezes de forma a evitarem a exposição a patogénios e parasitas. Mas então porque é que os cães comem cocó?
Porque é que o cão come fezes?
O tipo de fezes ingerida pelo cão pode nos dar algumas indicações de quais os motivos deste comportamento tão chocante para os donos. Por exemplo, vários tutores reportam que o cachorro come fezes de outros animais, como de gato, galinha, passarinho e vaca. Já o cão comer fezes de outro cão é menos frequente devido à aversão inata aos dejetos.
Entre os motivos para a ingestão de fezes incluem-se:
- Fezes de herbívoros: estas fezes são ricas em matéria orgânica, antioxidantes e imunoestimulantes; podem ser utilizadas pelos cães pelos seus benefícios nutricionais.
- Fêmeas com crias: as fêmeas ingerem as fezes das suas crias de forma a manterem o ninho limpo.
- Problemas comportamentais: aborrecimento e ansiedade poderia levar ao consumo de fezes. No entanto, não se observam melhorias em animais com acesso contínuo a alimento, com acesso a brinquedos ou com maior estimulação do tutor.
- Problemas nutricionais ou deficiência de enzimas digestivas: pensa-se que os cães pudessem ingerir fezes de forma a complementar carências nutricionais. No entanto, não se verifica melhorias através da suplementação alimentar ou com enzimas e não existe diferença de dieta entre animais coprofágicos e não coprofágicos.
A coprofagia parece ser mais frequente em cães com comportamentos alimentares ávidos, em raças das categorias Terrier e de cães de caça, em casas com mais de 2 cães, e em cães com tendência a ingerir também fezes de gato ou terra.
No entanto, como na maioria dos casos verifica-se uma dificuldade na prevenção da coprofagia por modulação do comportamento ou através de produtos, parece não se relacionar com problemas comportamentais ou de saúde. Mesmo assim, recomenda-se sempre uma consulta para despiste de possíveis problemas.
Em alternativa, alguns investigadores sugerem que a coprofagia no cão é uma tentativa de eliminar as fezes e os seus parasitas do ambiente próximo à matilha. Este comportamento é conhecido nos lobos.
O facto dos cães preferirem o consumo de fezes frescas (com menos de 2 dias) também suporta este argumento. Em geral, os parasitas fecais tornam-se ativos e com capacidade de infestar o animal após 2 dias.
Assim, ingeri-los antes deste período poderia permitir eliminar os parasitas e as chances de infestação. Em casas com muitos cães, as fezes são mais abundantes podendo estimular este comportamento. O apetite voraz também é uma característica do lobo que poderia ser conservada nestes indivíduos.
Como tratar a coprofagia em cães?
A coprofagia em cães não tem um tratamento único. O tratamento da coprofagia canina irá variar com o próprio animal. Assim, alguns tratamentos funcionam com alguns cães enquanto outros não. Já o consumo de fezes de herbívoro é considerado normal.
A prevenção do acesso às fezes é o método mais comum e eficaz. Em casa, significa remover as fezes do ambiente o mais rapidamente possível. Já os passeios na rua beneficiam do uso de trela e atenção permanente. O açaime pode ser usado, mas sempre com supervisão. Limite também o acesso a fezes de outros animais. Por exemplo, coloque a caixa de areia do gato num local de difícil acesso ao cão.
O treino com reforço positivo (guloseimas, mimos) e distrair o cão das fezes parecem também ajudar a evitar o consumo de fezes. O castigo não é eficaz e deverá ser evitado, uma vez que causa stress ao animal sem trazer nenhum benefício de comportamento.
Ensinar o comando “Deixa” ou “Larga” com reforço positivo poderá ser benéfico nesta situação. Fornecer guloseimas a seguir à defecação pode levar a que o cão passe a procurar a guloseima em vez das fezes.
O uso de medicação não parece ser muito eficaz, como de enzimas digestivas, substâncias com sabores aversivos ou suplementos nutricionais. Colocar substâncias aversivas nas fezes, como pimenta caiena, pode ser utilizado mas parece ser pouco eficaz.
A estimulação física e psicológica diária do cão através do exercício, brincadeiras, enriquecimento ambiental e atividades com o dono permite contribui para o bem estar e exclui casos de ansiedade e aborrecimento.
A coprofagia em cães tem cura. Não existe um remédio milagroso que possa evitar este comportamento. Mas simplesmente evitar o contacto com as fezes, removendo-as e supervisionando os passeios do cachorro com trela pode evitar este comportamento repulsivo.
O seu cão come fezes? Quais são as estratégias que usa para o evitar?
Fontes: Boze 2008; Hart et al. 2018