A ração com corante faz mal aos cães e gatos?

A ração colorida é muitas vezes considerada uma ração de baixa qualidade. São rações geralmente associadas a pior digestibilidade, ou seja, menor disponibilidade de nutrientes.

Mas será que o uso do corante tem impacto na saúde? Não existem provas concretas que demonstrem que o corante na ração faz mal à saúde dos cães e gatos.

No entanto, os corantes sintéticos são aditivos apenas utilizados porque tornam a ração mais atrativa ao consumidor. Deverá preferir rações com corantes naturais que têm outras funções para além da estética.

Dificilmente encontrará uma ração sem corantes artificiais. Todas as rações, mesmo as castanhas, usam corantes para obter uma cor uniforme. Assim, torna-se importante saber escolher rações que usem corantes naturais.

Porque é que a ração com corante faz mal?

Não existem provas de que as rações para cães e gatos que utilizam corantes façam mal à saúde.

Atualmente, a utilização de corantes na alimentação humana e animal é estritamente regulada. Os tipos de corantes e as doses limites são definidos por entidades reguladoras.

Os corantes alimentares usados atualmente não deverão constituir um perigo para a saúde humana ou animal. No entanto, existem vantagens em preferir rações que utilizem corantes naturais.

Os corantes nas rações não estão associados a problemas de saúde

Os corantes artificiais são alegadamente associados com problemas urinários, dermatológicos, alergias alimentares, cálculos renais (“pedras nos rins”), e cancro nos animais de companhia.

No passado, os corantes alimentares tóxicos (ex. chumbo, mercúrio) foram utilizados na alimentação humana com consequências graves na saúde. Muitas vezes eram utilizados com o intuito de tornar a aparência dos alimentos mais fresca, quando na verdade estavam degradados. Hoje, a sua utilização é proibida, sendo o uso de corante estritamente regulado.

Muitos problemas associados com os aditivos são na verdade consequência do aumento da esperança de vida dos nossos cães e gatos. Doenças renais e cancro são exemplos de patologias que se tornam mais frequentes em populações envelhecidas.

No entanto, ainda existem algumas questões relativas a certos corantes sintéticos. Um estudo sugere que alguns corantes (E129, E102, E110) podem causar reações de hipersensibilidade, estando por vezes contaminados por carcinogéneos. Outro estudo sugere que elevadas doses de E129 também podem estar associadas a alterações cognitivas e de memória.

É preciso ter em consideração que estes estudos não provam que os corantes usados nas rações têm efeitos adversos nos animais de companhia. A sua utilização é regulada, existindo limites legais. No entanto, será mais seguro utilizar corantes naturais na produção das rações para animais de companhia.

Os corantes nas rações não estão na origem de alergias alimentares

As alergias alimentares raramente estão associadas com a presença de corantes artificiais nos alimentos. As alergias alimentares geralmente despoletadas por proteínas no alimento, presente em ingredientes como a carne de vaca, leite ou soja.

A FDA, entidade governamental dos E.U.A., explica “As reações aos corantes são raras. É possível, mas raro, ter uma reação do tipo alérgico a um corante.”

Logo, os aditivos utilizados para produzir cor nos alimentos não estão necessariamente na origem dos problemas de saúde reportados.

Os corantes podem corar o vómito e as fezes

Certos corantes alimentares estão associados a cores estranhas observadas no vómito e fezes dos animais de companhia.

Por exemplo, os corantes sintéticos utilizados na produção de ração de cor castanha originavam fezes esverdeadas. Após ingestão da ração, o corante vermelho era absorvido, restando o corante azul e amarelo que produziam uma cor verde nas fezes.

A ração colorida também podia deixar manchas dos corantes nos tecidos e superfícies quando o animal regurgitava ou vomitava.

Ao alterar a cor do vómito e fezes, os corantes podem (em casos extremos) confundir o diagnóstico de outros problemas de saúde. Por exemplo, se a ração manchar o vómito com cor vermelha do corante, poderá ser confundido com sangue.

O que são os corantes alimentares?

Os corantes alimentares são aditivos utilizados com o objetivo de dar cor à ração, sem terem necessariamente outras funções nutricionais ou funcionais.

A FEDIAF explica “Os corantes podem ser adicionados à ração para animais para melhorar a aparência do alimento. Estes incluem uma gama de corantes alimentares naturais, pigmentos alimentares ou corantes à base de minerais”.

Existem dois tipos de corantes alimentes: os sintéticos e os naturais. Na União Europeia, os corantes artificiais e naturais são identificados pelos códigos E100 – E199.

Os corantes sintéticos são substâncias produzidas em laboratório. Exemplos de corantes sintéticos encontrados nas rações para animais incluem:

  • Tartrazina ou Amarelo 5 (E102): cor sintética amarela;
  • Amarelo Pôr-do-Sol ou Amarelo 6 (E110): cor sintética laranja;
  • Vermelho Allura ou Vermelho 40 (E129): cor sintética vermelha;
  • Índigo Carmim ou Azul 2(E132): cor sintética azul;
  • Óxido de ferro (E172): cor mineral verde, laranja, amarela e castanha.

Já os corantes naturais utilizam frutos, vegetais, e insetos para produzir cor, podendo também ter outras funções. Os corantes naturais têm a vantagem de também poderem apresentar valor nutricional, sendo fonte de nutrientes, vitaminas e antioxidantes.

A procura por dietas orgânica e naturais tem levado ao aumento da utilização destes corantes nas rações animais. Exemplos de alguns corantes naturais encontrados nas rações para animais incluem:

  • Cúrcuma ou açafrão-da-índia (E100): condimento e corante amarelo;
  • Beterraba: raiz e corante vermelho;
  • Couve-roxa: couve e corante roxo;
  • Algas: utilizadas como corante castanho;
  • Cochonilha (E120): inseto utilizado como corante vermelho;
  • Caramelo (E150a): corante castanho produzido a partir de açúcar caramelizado;
  • Riboflavina ou Vitamina B2 (E101): vitamina e corante de cor laranja;
  • Betacarotenos (E160a): precursores da vitamina A, antioxidante e corante de cor laranja.

Apresentamos na tabela um resumo dos corantes mais comuns nas rações animais:

Corantes sintéticosCorantes naturais
Tartazina ou Amarelo 5 (E102)
Ponceau 4R (E124)
Amarelo Pôr-do-Sol ou Amarelo 6 (E110)
Azul patenteado V (E131)
Caramelo (E150 a, b, c, d)
Cochonilha (E120)
Ervilha borboleta
Cúrcuma (E100)
Beterraba (E162)
Paprica (E160)
Uvas
Óxido de ferro (E172)
Dióxido de titânio (E171)

Porque é que as rações contêm corantes?

As rações comercias para animais de companhia contêm corantes para agradar ao consumidor e para obter um produto final mais uniforme. Vamos explicar em mais detalhe porque é que a quase todas as rações para cães e gatos contêm corantes.

As rações com corantes são mais atrativas aos consumidores

O principal motivo pelo qual existem rações coloridas é porque estas cores são mais atrativas para o consumidor. A ração é produzida a partir da mesma massa e corada para apelar ao cuidador, como estratégia de marketing.

Assim, os grãos verdes lembram-nos vegetais, os amarelos a carne de frango, os vermelhos a carne de vaca… associamos esta ração colorida a uma dieta variada e mais saudável.

A preferência por cores especificas da ração pode variar com a cultura. Um estudo revelou que os consumidores na Tailândia preferiam rações com forma de osso e cor amarela. Já um estudo na Polónia, os consumidores preferem ração castanha, mas não de um castanho muito claro.

Para o cão ou gato, a presença de diversas cores no alimento não faz diferença. A sua visão a cores é limitada. São mais importantes a forma, tamanho, cheio, e sabor da ração. A função do corante é apenas ajudar a vender o alimento, opondo-se aos restantes aditivos que garantem que o alimento se mantem seguro e nutritivo.

Este ponto é salientado pelo Pet Food Industry “Embora a cor tenha pouca importância para os cães e gatos, os consumidores julgam a qualidade e palatabilidade dos alimentos que compram em grande parte baseado na sua aparência.”

As rações perdem a cor natural durante o processo de produção

A cor da ração tem origem na cor dos seus ingredientes, sendo geralmente castanha ou cinzenta. Estas cores tendem a não ser uniformes, variam com a matéria-prima, e podem não ser atrativas ao consumidor.

Além disso, o processo de produção pode originar uma perda da cor natural dos ingredientes. A ração seca é produzida por extrusão em temperaturas altíssimas que originam descoloração. Já a exposição a oxigénio, humidade, e radiação ultravioleta pode escurecer certos ingredientes.

Leia também: Como são feitas as rações para cães e gatos?

A adição dos corantes alimentares à ração permite repor a cor, obtendo um produto final consistente e uniforme. Utilizam-se corantes estáveis durante o processo de produção.

Apenas a ração de qualidade mais baixa (rações standard) tendem a apresentar grãos coloridos. A maioria das rações atuais apresenta-se como um produto de cor uniforme, geralmente castanha.

A cor castanha pode ser obtida pela mistura de três corantes sintéticos. No entanto, geralmente o castanho é obtido pela adição de caramelo ou corante obtido a partir do caramelo, sendo considerado um corante natural.

Em conclusão…

Os corantes utilizados nas rações para animais não apresentam vantagens nutricionais. São apenas utilizados para melhorar a estética do alimento, tornando-o mais uniforme e agradando ao consumidor.

É preferível escolher uma ração que utilize corantes naturais, que têm outros benefícios nutricionais (ex. antioxidantes), do que utilizar rações que utilizem corantes sintéticos.

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