Obesidade em cães e gatos: o que fazer?

A obesidade em cães e gatos é a acumulação excessiva de depósitos de gordura.

Vidas sedentárias e dietas ricas em energia (calorias) predispõem os animais à obesidade.

A obesidade compromete a vida do animal, aumentando o risco de doenças, reduzindo a longevidade, e reduzindo a qualidade de vida.

A condição corporal dos cães e gatos pode ser avaliada segundo umas escala de pontos que considera a massa muscular e os depósitos de gordura.

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O tratamento da obesidade passa por aumentar o exercício e fazer uma restrição calórica, utilizando rações de emagrecimento apropriadas.

O que é a obesidade em cães e gatos?

A obesidade é a acumulação excessiva de tecido adiposo no corpo. Ou seja, a obesidade é o excesso de gordura corporal, que pode ser acompanhada (ou não) por aumento de peso.

A obesidade um dos transtornos nutricionais mais comuns nos animais de companhia. Estima-se que 25% dos cães e 40% dos gatos sejam obesos, especialmente em meia-idade.

O aumento da obesidade nos animais de companhia resulta de alterações no estilo de vida e na alimentação. Os animais de companhia são agora mais sedentários e são alimentados com rações mais calóricas e apetitosas.

A obesidade pode aumentar o risco de certas doenças, como osteoartrite e diabetes, e reduzir a longevidade do animal. O tratamento passa por alterar o estilo de vida e alimentação do animal.

Causas da obesidade em animais de companhia

Quando a alimentação fornece mais energia do que é gasta, essa energia é armazenada como gordura corporal. Ou seja, são ingeridas mais calorias do que são gastas, estando em balanço energético positivo.

Ou seja, a deposição de gordura pode ocorrer porque o animal tem pouca atividade física e gasta pouca energia ou porque come calorias ou alimentos em excesso. Fatores que alterem o equilíbrio entre as calorias que entram e saem predispõem à obesidade.

A gordura corporal é acumulada em células chamadas de adipócitos. Nos animais jovens, os adipócitos ainda podem multiplicar-se, tornando mais difícil manter uma condição corporal normal no futuro.

Em animais adultos, os adipócitos não se multiplicam e apenas acumulam gordura. Como estas células não desaparecem, existirá sempre um valor mínimo de gordura corporal.

Na fase dinâmica, o animal consume mais energia do que gasta e deposita-a como gordura. Como o animal fica mais pesado, gasta mais energia para se manter e movimentar. Logo, geralmente é acompanhado por aumento de consumo.

Eventualmente, o animal atinge a fase estática, em que existe um equilíbrio entre a ingestão e consumo calórico (balanço energético neutro). Nesta fase, o animal já não está a ganhar peso, mas também não está a perder, continuando obeso.

A única forma do animal perder peso é entrando em balanço energético negativo, ou seja, ingerir menos ou gastar mais calorias do que as que necessita. O animal em balanço energético negativo irá mobilizar a gordura corporal para suprir as suas necessidades energéticas.

Alterações na dieta dos animais de companhia

A ingestão de alimentos é determinada por fatores internos, como fome, saciedade, cheiro do alimento, e por fatores externos, como disponibilidade dos alimentos, presença de outros animais, horário das refeições. O cuidador apenas pode controlar os fatores externos.

As rações para animais tornaram-se mais calóricas e mais apetitosas, podendo levar à ingestão excessiva de calorias. Fornecer o alimento sem restrições ou um elevado número de refeições sem controlo da dose aumentam o risco de obesidade.

Rações muito ricas em gorduras são mais palatáveis mas também mais calóricas. A gordura na dieta é mais facilmente convertida em gordura corporal, predispondo ao ganho de peso.

Este é o caso da ração húmida, restos de comida, ou excessos de guloseimas. Alimentos para além da ração não deverão ultrapassar 10% das calorias diárias do cão ou gato. Leia os nossos conselhos sobres alimentos poderá misturar na ração.

A presença do cuidador ou de outros animais também pode aumentar a ingestão de alimentos (facilitação social). Outros fatores comportamentais, como ansiedade e aborrecimento também podem estimular o consumo de alimento.

Por outro lado, o animal pode ter falhas em estabelecer um comportamento alimentar e saciedade normais.

Muitos cuidadores interpretam mal o comportamento animal, assumindo que está a pedir comida, ou utilizam os alimentos como a única forma de dar atenção ao animal. Os cuidadores também poderão desvalorizar o excesso de peso nos animais de companhia.

Redução da atividade física

Animais sedentários gastam menos calorias. Os cães e gatos tinham funções de trabalho (ex. caça, pastorícia), enquanto agora são animais de interior com pouca atividade física.

A atividade física em animais saudáveis deveria gastar 30% da energia diária. Animais com menos exercício também podem ter tendencia a ingerir mais alimentos.

A própria obesidade torna o animal mais sedentário devido à intolerância ao exercício físico. Assim, a própria obesidade torna mais difícil a perda de peso.

Animais idosos

A obesidade é mais frequente em animais de meia-idade ou idosos. O envelhecimento leva à perda de massa muscular e redução do metabolismo basal.

Adicionalmente, o envelhecimento tende a reduzir a atividade física. Assim, animais idosos gastam menos energia.

Se os cães e gatos senior não reduzirem o consumo de alimentos, tenderão a ter excesso de peso e obesidade.

Castração

Animais castrados têm maior risco de obesidade. Isto porque a castração pode reduzir o metabolismo e atividade física, e aumentar a ingestão de alimentos.

Por outro lado, geralmente os animais são castrados quando atingem a idade adulta (~1 ano). Os animais jovens precisam de mais energia para crescer. As necessidades reduzem-se na idade adulta e devem ser acompanhadas de um ajuste na ingestão calórica.

A castração também reduz os períodos de redução voluntaria da ingestão, como durante o cio, ou maior gastos durante a gestação e amamentação.

Como a castração é benéfica à saúde do animal, a solução deverá passar por um maior controlo alimentar, como utilização rações para animais castrados.

Doenças

Doenças e fármacos podem alterar o metabolismo, reduzindo o consumo de energia, ou alterar a composição corporal. O tratamento com glucocorticoides facilita o ganho de peso.

O hipotiroidismo leva uma redução do metabolismo devido aos baixos níveis de hormona tiroide. Para além da obesidade, estes animais têm letargia, apatia, e alterações no pelo e pele.

O hiperadrenocorticismo (síndrome de Cushing) produz aumento do peso (em 50% dos casos), maior consumo de água e urina, e abdómen pendular. Neste caso, a dilatação abdominal pode ser confundida com excesso de peso.

Predisposição genética

Problemas genéticos raros em certas raças podem predispor à obesidade. Por outro lado, raças mais musculadas tendem a ter um maior metabolismo basal, com maior gasto de energia.

Raças de cães com tendência a obesidade incluem Beagles, Basset Hounds, Cairn Terriers, Chihuahua, Cocker Spaniels, Dachshounds, Golden Retrievers, Labrador Retrievers, Schanuzers miniaturas, Pastores Shetland, Pastores Alemães e Pugs. Nos gatos, a raça Manx é a única identificada com predisposição à obesidade até ao momento.

Qual é o risco da obesidade nos cães e gatos?

A obesidade é um põe em risco a saúde, reduz a longevidade e a qualidade de vida. Ou seja, animais obesos são mais doentes e morrem mais cedo.

Existem várias patologias que se podem desenvolver como consequência da obesidade. Algumas consequências da obesidade incluem:

  • Doenças ortopédicas traumáticas ou degenerativas devido ao maior esforço, incluindo fraturas ósseas, ruturas de ligamentos, osteoartrite, e displasia da cana;
  • Alterações respiratórias e cardiovasculares, com maior risco de colapso da traqueia em cães pequenos, de hipertermia, de trombose, hipertensão, redução da tolerância ao exercício físico, intolerância ao calor;
  • Inflamação cronica e devido à produção de hormonas pelo tecido adiposo (adipoquinas);
  • Dificultam a realização dos procedimentos veterinários, por exemplo, impedindo a palpação e auscultação cardíaca, aumentando o risco da anestesia e cirurgia;
  • Alterações do sistema urinário por insuficiência renal e incontinência por falha da uretra;
  • Desenvolvimento de diabetes mellitus tipo II (sendo que gatos obesos têm o triplo do risco) por resistência dos tecidos à insulina, com hiperglicemia, aumento dos triglicerídeos e do colesterol;
  • Maior risco de cancro da mama e da bexiga, e pior prognóstico com maior mortalidade;
  • Alterações dermatológicas, como acne felino, alopecia, seborreia (descamação), úlceras de pressão, e ausência de comportamentos de limpeza devido à falta de mobilidade.
  • Risco de lipidose hepática em gatos e pancreatite em cães;
  • Redução da imunidade;

Como é diagnosticada a obesidade em cães e gatos?

À semelhança do índice de condição corporal nos humanos, existem estudos que consideram animais com excesso de peso e obesos quando ultrapassam 15% e 30% do peso corporal ideal, respetivamente.

Pode ser difícil determinar qual é o peso corporal ideal considerando a variação de tamanho entre as várias raças. No entanto, o peso e a medição podem auxiliar ao diagnóstico de obesidade em animais.

O índice de condição corporal para animais de companhia utiliza um sistema de 5 ou 9 pontos, em que se faz uma avaliação recorrendo à observação e palpação da gordura e musculatura corporal.

No exame clínico, o médico veterinário irá determinar a condição corporal do seu cão ou gato utilizando esta escala de pontos. A figura seguinte é um exemplo deste sistema e pode ajudá-lo a avaliar o seu animal.

Como se faz o tratamento da obesidade em cães e gatos?

Muitos cuidadores não sabem o que fazer relativamente à obesidade nos animais de companhia. O tratamento passa por três pontos chave: restrição calórica, exercício, e informação. Se os cuidadores não estiverem bem informados será difícil cumprirem com o plano de emagrecimento.

Ou seja, o tratamento passa por induzir um balanço energético negativo: o animal deverá estar a comer menos e a gastar mais calorias para mobilizar os depósitos de gordura.

O médico veterinário irá ajudá-lo a planear um plano de redução de peso adequado ao seu animal de companhia, considerando o seu estilo de vida e alimentação.

Restrição calórica

Deve-se reduzir o número de calorias consumidas durante o dia. As necessidades energéticas em dieta são calculadas como 60% das necessidades para o peso ideal. Nos gatos a perda de peso deverá ser moderada, pois há risco da mobilização rápida de gorduras induzir lipidose hepática.

Ou seja, a ração deverá ser pesada para seguir à risca a dose diária. Existem rações de emagrecimento para animais de companhia. Estas rações são pobres em calorias e lípidos mas ricas em fibra que dá induz uma sensação de saciedade;

A ração deve ser rica em proteína para evitar a perda de massa muscular, mantendo o músculo ativo e a consumir calorias. A proteína na dieta também induz uma sensação de saciedade.

Estas rações podem ser suplementadas com o aminoácido L-carnitina que evita a perda do músculo, protegendo-o e facilitando a mobilização de produção de energia a partir das gorduras.

Por vezes, estas rações também contêm ácido linoleico conjugado, que é um ácido gordo que interfere com a produção de triglicerídeos e a deposição de gordura corporal.

A restrição calórica apenas é recomendada com uma ração de emagrecimento, que garanta uma ingestão adequada dos nutrientes essenciais. Dietas de manutenção não são recomendadas para o emagrecimento. Se o animal não se adaptar à ração de emagrecimento, esta deverá ser trocada para evitar que entre em anorexia.

A ração poderá ser dividida em várias refeições, para induzir saciedade e aumentar os gastos energéticos durante a digestão. Também poderá utilizar brinquedos que libertem comida (ex. puzzles, tapetes).

Finalmente, alimentos para além da ração de emagrecimento devem ser reduzidos ao mínimo. As guloseimas não devem exceder 10% das calorias diárias.

Aumento da atividade física

Os cães e gatos em emagrecimento devem fazer exercício físico. Sem exercício, o organismo em restrição calórica tende a diminuir a taxa metabólica para preservar as gorduras. Por outro lado, o exercício permite manter o músculo que aumenta a taxa metabólica.

O ideal é o animal fazer 30 a 60 minutos de exercício diário, exceto se tiver problemas ortopédicos. O exercício passa por passeios e brincadeiras.

A utilização de brinquedos interativos que libertem alimentos pode ser uma forma de o animal gastar energia durante a refeição. Por outro lado, poderá recorrer à natação, hidroterapia e passadeiras, já existindo centros veterinários que oferecem estes serviços.

Manutenção da condição corporal

O tratamento de emagrecimento deve ser mantido durante 3 meses, sendo reavaliado a cada 2 semanas. A monitorização regular é uma oportunidade para cuidador ser aconselhado e motivado.

Quando o animal atingir uma condição corporal normal, deverá ser realizado um plano de manutenção. Se o cão ou gato reverterem para hábitos antigos, poderão voltar a engordar.

Assim, o cuidador deverá continuar a supervisionar as doses de ração consumida e a estimular o exercício físico. As atividade interativas com o animal também servem para reforçar o laço com o cuidador.

Referências: German 2006

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