Taurina nos gatos: o que é e porque é importante?

A taurina é um aminoácido sulfurado livre que tem importantes funções no organismo.

A taurina está presente apenas em produtos de origem animal. As plantas não apresentam níveis detetáveis de taurina (com a exceção das algas marinhas).

A taurina é um aminoácido essencial para os gatos, porque não a conseguem sintetizar a partir de percursores (metionina e cisteína).

A deficiência em taurina provoca sinais clínicos graves, como a perda de visão por degeneração da retina e problemas cardíacos por cardiomiopatia dilatada.

A taurina é adicionada às rações comerciais para garantir um aporte diário adequado. Nestes casos não é necessário realizar a suplementação de taurina.

O que é a taurina?

A taurina é um aminoácido sulfurado que está presente nos tecidos animais na sua forma livre. Ou seja, a taurina não está presente nas proteínas, mas como um aminoácido livre. A taurina foi originalmente isolada na bílis de touros (Bos taurus), conferindo-lhe o seu nome.

Os aminoácidos essenciais são aqueles que o organismo não consegue sintetizar e têm que estar presentes na dieta. Uma deficiência de aminoácidos essenciais causa deterioração do estado de saúde.

Geralmente, existem 9 a 10 aminoácidos essenciais. Isto porque a maioria dos animais consegue sintetizar a taurina a partir de outros aminoácidos sulfurados, a metionina e a cisteína.

Por exemplo, os cães conseguem sintetizar a taurina. Logo, os cães não têm necessidade de taurina desde que a dieta tenha metionina e cisteína. Logo, desde que os cães supram as suas necessidades diárias de proteína e aminoácidos essencias, não serão deficientes em taurina.

A taurina é um aminoácido essencial nos gatos. A taxa de síntese de taurina nos gatos é muito baixa devido à ausência de certas enzimas hepáticas. Logo, os gatos precisam de taurina na dieta.

A taurina está presente apenas em alimentos de origem animal. Como os gatos são carnívoros, as suas presas forneciam toda a taurina que necessitaram. Logo, os gatos não desenvolveram as vias metabólicas para a sua produção.

A taurina é perdida diariamente nos ácidos biliares. No caso dos gatos, as vias de produção de ácidos biliares que utilizam a glicina em vez da taurina estão suprimidas. Logo, os gatos precisam de mais taurina para produzir ácidos biliares.

Os ácidos biliares são armazenados na vesícula biliar e libertados no intestino delgado, onde auxiliam a digestão. Os ácidos biliares podem ser reabsorvidos, na circulação enterohepática, e reutilizados. No entanto, os microrganismos do intestino podem degradar a taurina impedindo a reutilização.

Nos gatos existe uma perda constante de taurina no sistema digestivo e não existe síntese. Por isso, os gatos estão dependentes das concentrações de taurina presentes na dieta.

Para que serve a taurina nos gatos?

A taurina é um aminoácido sulfurado livre que tem várias funções importantes no organismo. Sabemos que a deficiência em taurina tem consequências em vários sistemas de órgãos, demonstrado a sua importância.

A taurina está envolvida na:

  • Produção de ácidos biliares;
  • Biossíntese de moléculas biológicas;
  • Vias metabólicas;
  • Destoxificação de xenobióticos;
  • Regulador de electrólitos;
  • Efeito antioxidante e anti-infamatório;
  • Neuromodulação, alterando a resposta aos neurotransmissores;
  • Proteção do coração (ex. da isquémia) e redução da hipertensão;
  • Proteção dos rins e fígado;

Alimentos com taurina para gatos

A taurina apenas está presente em alimentos de origem animal. A concentração de taurina é superior no músculo, vísceras, e cérebros dos animais.

Como carnívoro, os gato adquiria taurina através do consumo das suas presas. Assim, uma dieta com carne deverá fornecer taurina ao gato.

Um estudo avaliou a concentração de taurina em vários alimentos utilizado na produção de rações e também em dietas caseiras. Como o esperado, a taurina foi encontrada principalmente em alimentos de origem animal.

No entanto, existiam grandes variações nas concentrações de taurina para o mesmo produto crú. Os autores sugeriram que este se deve-se a diferenças de maneio na criação animal ou a uma distribuição desigual dentro dos órgãos.

Elevadas concentrações de taurina foram detetadas em peixe e mariscos. Já as plantas não apresentaram níveis detetáveis de taurina, ao contrário das algas marinhas.

Este estudo também demonstrou que o método de preparação do alimento influencia a concentração da taurina. Como a taurina é solúvel em água, a cozedura pode levar a maiores perdas de taurina. Já a ingestão de água com as refeições pode melhorar a sua absorção.

A perda de taurina durante o processamento dos alimentos é conhecido. Por isso, as rações animais são suplementadas com taurina para garantir que os gatos não desenvolvem uma deficiência deste aminoácido.

As dietas caseiras poderão ser deficientes em taurina, dependendo dos ingredientes utilizados e métodos de preparação dos alimentos. Desta forma, é recomendado o animal ser acompanhado por um médico veterinário.

As dietas vegetarianas e veganas para animais também podem ser deficientes em taurina, uma vez que não é encontrada nas plantas. As dietas vegetarianas são criticadas por não se adequarem às necessidades de animais carnívoros, como o gato.

No entanto, o Dr Andrew Knight argumenta que todas as rações para animais são suplementadas com taurina sintética devido às perdas no processo. Logo, as dietas vegetarianas e veganas não são menos naturais do que qualquer outra ração comercial.

Logo, se fornece uma ração comercial ao seu animal é improvável que este venha a sofrer de deficiência em taurina.

Deficiência de taurina em gatos

A concentração de taurina no plasma sanguíneo de gatos e cães deverá ser superior a 50 e 40 μmol/L, respetivamente. Concentrações inferiores predispõem ao aparecimento de sinais de deficiência.

A recomendação da FEDIAF para a concentração mínima de taurina incluída nas rações para gatos é 0.13 e 0.27 g / 100 g de matéria seca de ração seca e ração húmida, respetivamente.

Nas rações para cães não há uma recomendação para taurina mas para os seus percursores. Nas rações para cães deverá ser incluída 0.46 e 0.88 g / 100 g de matéria seca de metionina e do total de metionina e cisteína, respetivamente.

Uma deficiência em taurina ocorre quando as perdas diárias excedem a taxa de síntese e ingestão.

No gato, a taxa de síntese de taurina é muito baixa devido à ausência de enzimas hepáticas. Por isso, as deficiências de taurina nos gatos geralmente ocorrem por deficiências na composição da dieta ou na sua absorção.

A deficiência em taurina também pode ocorrer devido a uma perda excessiva nos ácidos biliares e na urina, como taurocolato. A composição da dieta pode provocar uma maior degradação pelos microrganismos intestinais ou perdas nas fezes (ex. com a fibra).

Nos cães também pode ocorrer por diminuição da síntese ou redução na absorção dos seus percursores, a cisteína e metionina.

Em 2014, a FDA dos Estados Unidos encontrou uma relação entre o consumo de certas rações sem cereais e o desenvolvimento de cardiomiopatia dilatada em cães. Pensa-se que uma deficiência em taurina teve origem na utilização de novos ingredientes nas rações.

Por exemplo, as ervilhas e batatas recentemente incluídas na composição das rações podem originar deficiências de taurina. Estes vegetais são pobres em cisteína e metionina mas ricos em fibra, causando perdas devido à produção de fezes e à fermentação pelos microrganismos intestinais.

No entanto, nem todas as dietas grain free originam deficiência em taurina. A Dr Linda Case esclarece “É bem possível (se não provável) que vários fatores de risco diferentes devam estar presentes para que um indivíduo desenvolva deficiência em taurina e cardiomiopatia dilatada.” Sugere que fatores genéticos, tamanho do cão, e outras patologias (ex. obesidade) possam estar envolvidas.

Nos gatos, a deficiência em taurina deve-se principalmente a uma redução do aporte na dieta. Dietas caseiras, especialmente dietas vegetarianas e veganas, têm maior risco de sofrer de deficiências em taurina. Se faz este tipo de dietas, o animal deverá ser acompanhado regularmente por um médico veterinário.

A deficiência em taurina origina sinais clínicos específicos. Devido ao seu envolvimento em vários processos do organismo, os sinais clínicos são variados:

  • Cardiomiopatia dilatada;
  • Degeneração retinal central felina com perda da vista;
  • Infertilidade e aborto;
  • Anormalidades e atraso do crescimento;
  • Imunossupressão;

Se for diagnosticada uma deficiência em taurina, o tratamento passa por suplementação com taurina e tratamento de suporte para reduzir os efeitos da deficiência.

Se o seu gato ou cão fazem uma dieta comercial de boa qualidade, deverão ter o aporte de aminoácidos essenciais suficientes (incluindo a taurina). Logo, nestes casos não é necessário fazer suplementos de taurina.

Referência: Schaffer et al. 2014

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