Qual é a melhor ração para cães e gatos idosos?

Os animais de companhia são considerados idosos entre os 8 e 12 anos. O envelhecimento causa alterações fisiológicas. Logo, existem alterações das necessidades nutricionais.

As melhores rações para cães e gatos idosos devem ser pobres em energia e gordura, mas ricas em proteína. É importante evitar que os animais geriátricos tenham excesso de peso ou obesidade, o que aumenta o risco de várias doenças.

A ração para animais idosos poderá ser suplementadas com antioxidantes, condroprotetores, e ómega-3 que melhoram a sintomatologia de doenças degenerativas relacionadas com o envelhecimento.

Os animais idosos também deverão manter uma rotina diária com duas a três refeições por dia para ajudar a uma melhor digestão. A atividade física permite reduzir a perda de massa muscular e assim melhorar a saúde dos animais sénior.

Envelhecimento de cães e gatos

Pensa-se que os animais idosos representem 1/3 da população mundial de animais de companhia.

As alterações adversas causadas pelo envelhecimento são chamadas de senescência. A senescência deve-se a processos multifatoriais que incluem alteração do controlo genético e acumulação de lesões celulares.

A idade à qual os animais são considerados idosos é variável individualmente. Considera-se que o animal é sénior quando ultrapassou os últimos 25% da sua longevidade.

Longevidade de cães e gatos

A longevidade dos animais domésticos tem aumentado, sendo acompanha por doenças degenerativas e cancros decorrentes da idade. Na natureza, os animais não atingiam idades que pudessem sofrer destas patologias. No entanto, a domesticação pode ter levado a uma seleção artificial para maior longevidade.

A longevidade máxima dos cães e gatos aproxima-se dos 30 anos. Os cães têm uma longevidade média de 13 anos, sendo menor nas raças grande e maior nas raças pequenas. Pensa-se que o crescimento rápido das raças grandes e doenças do desenvolvimento esquelético expliquem uma menor esperança de vida.

Os gatos são considerados idosos aos 12 anos. Já os cães são considerados idosos entre os 8 e os 12 anos, dependendo de ser uma raça grande ou pequena, respetivamente.

CãoGato
Idade sénior>8 – 12 anos>12 anos

Animais de raça pura também podem sofrer de doenças genéticas hereditárias devido à consanguinidade. O cruzamento de animais da mesma família aumenta o risco de expressar doenças genéticas recessivas.

Consequências do envelhecimento nos animais de companhia

A nutrição dos animais idosos é afetada por várias alterações fisiológicas decorrentes do processo de envelhecimento, incluindo:

  • Redução da capacidade funcional dos órgãos;
  • Redução do metabolismo basal devido à perda de músculo;
  • Redução da atividade física;
  • Redução da elasticidade da pele devido ao aumento das fibras de pseudoelastina e hiperqueratose;
  • Alopecia localizada devido à atrofia dos folículos do pelo;
  • Pelos brancos no queixo e cara devido à redução da produção de enzimas;
  • Pelo e pele secos e com caspa (seborreia) devido à alteração da produção de sebo;
  • Maior incidência de cancro de pele;
  • Redução da eficiência do sistema gastrointestinal;
  • Perda progressiva da função renal (mas sem sinais clínicos);
  • Perda de massa óssea e alterações articulares, com menor capacidade de regeneração;
  • Redução da imunidade celular;
  • Comprometimento da função cardíaca;
  • Alteração da visão, audição, e sabor;
  • Redução da reação a estímulos;
  • Alterações de comportamento devido ao envelhecimento ou a doenças degenerativas;
  • Resistência à alteração de rotinas diárias

Nutrição de cães e gatos idosos

O objetivo da nutrição para animais sénior é fornecer um nível ótimo de nutrientes, atrasar as alterações fisiológicas relacionadas com o envelhecimento, e reduzir a acumulação de produtos tóxicos.

Apesar dos nutrientes para cães e gatos idosos serem os mesmos, as suas quantidades são diferentes. Logo, deverá escolher uma ração para cão ou gato sénior.

O envelhecimento induz alterações fisiológicas que se traduzem em diferentes necessidades nutricionais. Por isso exitem rações especificas para este estadio da vida.

Não deverá dar ração de filhote para cães idosos. Apesar da ração de filhotes ser rica em proteína, é muito calórica e tem maiores concentrações de minerais do que é necessário para os animais sénior. Uma ração boa para cães e gatos idosos deve pobre em calorias e gordura mas rica em proteína.

A seguinte tabela sumaria as diferenças da dieta para animais idosos e uma dieta de manutenção, que serão abordados em detalhe nas seguintes secções.

NutrienteRecomendaçãoJustificação
EnergiaDiminuição do metabolismo basal e da atividade física;
Água=Maior risco de desidratação devido a menor sensação de sede e causada por outras patologias;
ProteínaAumento devido à menor eficiência da digestão e síntese proteica;
GorduraRedução da energia, mas fornecimento de gordura de melhor qualidade;

Energia

Os animais idosos podem sofrer uma redução moderada nas suas necessidades energéticas. As necessidades do metabolismo basal geralmente reduzem-se com a idade.

No entanto, esta redução parece depender da perda de músculo durante o envelhecimento. Ocorre também uma perda de água, uma vez que o músculo é mais rico em água do que a gordura.

A redução do metabolismo com o envelhecimento varia entre indivíduos. Certos animais mantêm-se ativos e sem alteração significativa das necessidades energéticas.

Outros animais reduzem a atividade física e as necessidades do metabolismo basal, diminuindo a necessidade de calorias diárias em 30 a 40%.

A manutenção de um peso ideal prolonga a longevidade do animal. O excesso de peso e obesidade são responsáveis por patologias que diminuem a qualidade de vida e longevidade.

O excesso de peso e obesidade também pioram casos de doenças articulares degenerativas. O seu tratamento também passa pela redução de peso, que permite reduzir os mediadores inflamatórios e a dor. No entanto, a perda e de peso deverá permitir manter os níveis de proteína para evitar a perda muscular.

Os gatos podem sofrer uma redução na capacidade de digerir gordura e proteína. Neste caso, a redução calórica terá que ser contrabalançada com uma menor capacidade de digestão e absorção dos nutrientes.

Alguns animais idosos podem ter baixo peso devido à perda de massa muscular. Nestes casos é preciso identificar a causa da perda de peso. A perda de peso geralmente precede o aparecimento clínico de doenças. Nestes casos deve-se dar mais ração ou utilizar uma ração mais calórica.

Proteína

O envelhecimento origina perda de massa muscular devido à sua mobilização quando o animal se encontra doente ou em stress fisiológico. Pensa-se que o envelhecimento também reduz a eficiência de utilização das proteínas.

A proteína na ração de animais sénior deve ser de elevada qualidade e que forneça todos os aminoácidos essenciais. As necessidades de proteína são estimadas em 2.5 e 5 g / kg de peso corporal em cães e gatos idosos, respetivamente.

O aumento da proteína na dieta ajuda a reduzir a perda de massa muscular e permite o bom funcionamento do sistema imunitário. A quantidade de proteína na dieta também tende a aumentar devido à necessidade de fazer uma restrição calórica, reduzindo as gorduras e carboidratos.

Previamente pensava-se que a quantidade de proteína devia ser reduzida nas dietas de animais idosos para prevenir a doença renal. Isto devia-se a uma confusão entre causa e efeito.

Quando o animal desenvolve insuficiência renal crónica, a sintomatologia piora quando é alimentado com dietas ricas em proteína.  A metabolização da proteína na dieta produz ureia, que não é excretada na urina quando há um mau funcionamento do rim.

A ureia acumula-se na circulação e provoca sintomatologia associada à insuficiência renal crónica. No entanto, uma dieta rica em proteína em animais idosos saudáveis não aumenta o risco de vir a sofrer de doença renal.

A restrição proteica é aconselhada em cães e gatos que sofram de insuficiência renal. Animais idosos saudáveis não deverão fazer restrição de proteína.

Leia também: Quantidade de proteína diária para cães.

Gorduras

O envelhecimento torna o organismo menos capaz de metabolizar os lípidos. Logo, é essencial fornecer gorduras de qualidade, ricas em ácidos gordos essenciais.

É também necessário reduzir a quantidade de gordura na dieta devido a esta alteração de metabolismo e à restrição calórica. Uma dieta com menos gordura será mais pobre em energia.

A dieta também poderá ser suplementada com gorduras específicas que podem ter benefícios para o animal idoso. Por exemplo, triglicerídeos de cadeia média parecem ajudar à redução do síndrome de disfunção cognitiva.

Os ómega-3 têm efeitos anti-inflamatórios nas articulações e podem ajudar ao controlo de doenças articulares degenerativas. Os principais ácidos gordos deste tipo encontrados nas rações incluem n-3-ácidos gordos polinsaturado, ácido eicosapentanoico, e ácido decosahexanoico.

Antioxidantes

As rações para cães e gatos idosos frequentemente são suplementadas com antioxidantes. Os antioxidantes combatem espécies de oxigénio ativo, moléculas instáveis e reativas que causam danos celulares.

Alguns antioxidantes utilizados nas dietas para animais incluem a vitamina E, carotenoides (precursores da vitamina E), e vitamina C (ou ácido ascórbico). Estes podem fazer parte da lista de aditivos da ração.

As células do sistema imunitário são especialmente vulneráveis ao stress oxidativo devido à presença de ácidos gordos polinsaturados e devido à produção de moléculas oxidantes na função imune.

A utilização de antioxidantes em níveis moderados nas dietas de cães e gatos sénior melhora a imunidade celular. Ou seja, estes animais apresentam maior número de células imunitárias capazes de responder a qualquer ameaça à saúde.

Os antioxidantes também podem melhorar os sinais da síndrome de disfunção cognitiva. Este síndrome expressa-se como desorientação, ansiedade, perda de memoria, e redução da capacidade de aprendizagem e adaptação a alterações no ambiente ou rotina.

Pensa-se que os antioxidantes possam ter efeitos neuroprotetores, apresentando benefícios moderados. Melhorias incluem a redução da desorientação, melhoria das interações sociais, e menos incidentes de eliminação inadequada.

Condroprotetores

Os condroprotetores são considerados nutraceuticos. Têm o proposito de abrandar a progressão da doença articular ou melhorar a sintomatologia.

Utilizam-se precursores de proteoglicanos (glucosamina e sulfato de condoitina). No entanto, ainda não está comprovado que os condroprotetores tenham um efeito significativo na osteoartrose e osteoartrite.

Cuidados na alimentação de cães e gatos idosos

Existem outras considerações a ter quanto à nutrição dos animais idosos. Alterações do comportamento ou a presença de doenças degenerativas pode alterar o comportamento alimentar dos cães e gatos.

Os animais idosos devem seguir rotinas estáveis, sendo que qualquer alteração deverá ser gradual. Devido ao risco de desenvolverem patologias devido à senescência, deverão ser acompanhados por um médico veterinário.

Os animais idosos devem fazer duas a três refeições por dia para melhorar a utilização de nutrientes e reduzir a fome. O horário das refeições deve ser sempre o mesmo.

Em geral, animais idosos devem comer uma dieta de elevada qualidade (premium e superpremium), com elevados níveis de proteína e redução da gordura e calorias. Se estiverem presente outras patologias, será necessário adequar a dieta ao tratamento. É importante fazer uma boa manutenção do peso corporal, pois poderá aumentar o risco de patologias relacionadas com o envelhecimento.

Os animais idosos tendem a ter menos vontade de comer e de experimentar alimentos novos. Os gatos idosos são particularmente difíceis nas suas preferências alimentares.

A presença de dor também pode reduzir o apetite. O envelhecimento origina alteração das sensações, incluindo do paladar, o que pode interferir com a ingestão de alimentos.

Deverá procurar uma ração altamente palatável e com cheiro intenso. Também poderá utilizar outras estratégias, como aquecer o alimento ou amolecê-lo em água.

Deverá tratar da saúde oral do cão ou gato idoso. A saúde oral passa para uma dieta adequada que reduza a acumulação de detritos, lavagem regular dos dentes, e destartarização anual.

O desenvolvimento de doenças periodontais nos animais idosos como consequência de uma saúde oral inadequada resulta em redução da ingestão de alimento, anorexia, e doença sistémica.

Para cães e gatos idosos com poucos dentes poderá amolecer a ração seca com água ou fornecer uma ração húmida.

Leia também: Porque é que os gatos tem um paladar exigente?

Nutrição no fim de vida do animal

Quando o animal se aproxima do final da sua vida, apresenta uma progressiva deterioração da saúde. Neste momento, a dieta deverá ser reajustada e fazer parte do tratamento e dos cuidados paliativos.

O estado de hidratação, ingestão de alimento, e comportamentos alimentares deverão ser monitorizados. Náusea, desconforto e dor deverão ser tratados para melhorar o apetite.

A diminuição do consumo de água e do alimento faz parte do processo de fim de vida. A alimentação forçada poderá causar mais stress e aversão à ingestão de alimentos. É preferível falhar refeições ou utilizar alimentos favoritos, mesmo que fora da dieta habitual.

Referências: Case 2010; Churchill and Eirmann 2021

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